O Preço do Progresso: Uma Resenha de "O Mal-Estar na Civilização", de Freud
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- 8 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de out.
O Mal-Estar na Civilização
Em "O Mal-Estar na Civilização" (1930), Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nos entrega um dos seus textos mais sombrios, lúcidos e indispensáveis.
Mais do que um livro de psicologia, é um tratado filosófico sobre os custos psíquicos de vivermos em sociedade. Em um mundo que celebra o progresso, Freud ousa fazer a pergunta que ninguém quer ouvir: a que preço?
A tese central de Freud é tão simples quanto perturbadora: a civilização é construída sobre a renúncia dos nossos instintos. Para que possamos viver em comunidade, abrimos mão de parte de nossa liberdade agressiva e sexual (o Princípio do Prazer) em troca de segurança e ordem (o Princípio da Realidade).
Esse "pacto civilizatório", porém, não é gratuito.
A repressão constante desses impulsos gera um "mal-estar" difuso, uma culpa soterrada e uma frustração crônica que se tornam o pano de fundo da experiência humana moderna.
Freud não poupa ninguém em sua análise. A religião é vista como uma ilusão consoladora; o amor, embora potente, é uma solução frágil; e a busca pela felicidade está fadada à decepção, pois a cultura exige mais renúncias do que oferece gratificações.
O grande inimigo, alerta ele, é a nossa própria pulsão de morte (Thanatos), a tendência agressiva e autodestrutiva que a sociedade tenta, em vão, domesticar.
Para quem é este livro?
Para quem busca entender as raízes da insatisfação contemporânea. É um diagnóstico que soa profeticamente atual em nossa era de ansiedade e busca por felicidade artificial.
Para leitores de filosofia e ciências humanas. A obra dialoga diretamente com pensamentos sobre ética, sociedade e a condição humana.
Para qualquer um disposto a encarar uma visão desencantada, porém profundamente realista, de quem somos.
Veredito Final:
"O Mal-Estar na Civilização" não é um livro confortável. É um soco no estômago intelectual. Freud não oferece soluções fáceis, mas nos presenteia com a coragem de olhar para o abismo que nós mesmos criamos. É uma leitura essencial, um clássico atemporal que continua a explicar, com assustadora precisão, os paradoxos de estarmos sempre insatisfeitos, mesmo no ápice do conforto material. Uma obra-prima da desilusão necessária.

Sobre o autor
Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico neurologista austríaco, fundador da Psicanálise. Suas teorias revolucionárias, como o inconsciente, a sexualidade infantil e a divisão da psique em Id, Ego e Superego, mudaram para sempre a compreensão da mente humana.
Obras como "A Interpretação dos Sonhos" e "O Mal-Estar na Civilização" tornaram-se pilares da cultura moderna.
Uma curiosidade: a famosa técnica do divã foi criada para que os pacientes se deitassem e se concentrassem na "livre associação" de ideias, enquanto Freud ficava fora do seu campo de visão, incentivando que falassem sem censura.
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