A Sociedade do Cansaço
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- 2 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de out.
Review: A Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han – O Preço da Positividade Tóxica
Em um mundo obcecado por produtividade, otimização e felicidade obrigatória, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han oferece um dos diagnósticos mais contundentes e necessários do nosso tempo.
"A Sociedade do Cansaço" é um livro curto, porém denso e incrivelmente potente, que desmonta a narrativa de que vivemos numa era livre e realiza uma inversão genial: o maior opressor de hoje não é um inimigo externo, mas nós mesmos.
A Metamorfose da Sociedade Disciplinar para a Sociedade do Desempenho
Han argumenta que saímos da "sociedade disciplinar" do século XX, teorizada por Foucault — regrada por hospitais, prisões e fábricas que diziam "Não!" você não pode — e entramos na "sociedade do desempenho".
Então: O indivíduo era "sujeito da obediência", moldado por regras externas.
Agora: Nos tornamos "sujeito do desempenho", que se cobra para ser o melhor de si mesmo. O verbo de comando não é mais "não pode", mas o imperativo positivo e esgotante "Yes, you can!" ("Sim, você consegue!").
A Violência da Positividade e o Cansaço Neurótico
Este é o cerne da tese de Han. A violência hoje não é mais viral (de um vírus externo), mas neuronal. Ela nasce de dentro para fora, causada por:
Hiperatenção e Multitarefa: A incapacidade de se aprofundar, trocando a contemplação por um scrolling ansioso e infindável.
Excesso de Positividade: A obrigação de ser feliz, produtivo e bem-sucedido a todo custo, que gera uma culpa profunda quando não correspondida.
Autoexploração: Somos mais eficazes que qualquer capataz externo. Nós mesmos nos exploramos, movidos pela crença de que podemos (e devemos) sempre mais.
O resultado não é um sujeito doente, mas um sujeito cansado, depressivo e esgotado. Ele luta contra si mesmo e, ao vencer, só encontra a próxima meta, em um loop infinito. É o "cansaço de si mesmo".
Por Que Este Livro é um Soco no Estômago (Necessário)?
Ler "A Sociedade do Cansaço" é um ato de reconhecimento doloroso. Ele nomeia um mal-estar que muitos sentem, mas não conseguiam articular.
Para quem se sente culpado por não estar "fazendo o suficiente", mesmo no lazer.
Para quem vive exausto em meio à abundância de oportunidades.
Para quem percebe que a liberdade de ser "eu mesmo" se transformou na obrigação insuportável de "otimizar a si mesmo".
Veredito Final:
"A Sociedade do Cansaço" não é um manual de autoajuda com soluções fáceis. É um diagnóstico filosófico brutal da patologia da sociedade contemporânea. Byung-Chul Han nos oferece as lentes para entendermos que a exaustão generalizada não é uma falha individual, mas uma consequência lógica de um sistema que nos incentiva a nos explorarmos até o colapso.
É um livro essencial para quem quer entender a raiz da ansiedade moderna e começar a questionar as correntes invisíveis da positividade tóxica. Uma leitura desconfortável, transformadora e, acima de tudo, libertadora.

Sobre o autor
Byung-Chul Han: O Filósofo que Desvendou o Cansaço da Era Digital
Mais do que um nome, Byung-Chul Han é um diagnóstico do nosso tempo. Nascido em Seul, Coreia do Sul, em 1959, este filósofo e ensaísta se tornou uma das vozes mais essenciais — e contundentes — para compreender os mal-estares da sociedade contemporânea.
Sua trajetória acadêmica é tão internacional quanto seu pensamento. Han estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia em Munique, consolidando uma formação profundamente enraizada no pensamento europeu. Seu doutorado, concluído em 1994, foi sobre ninguém menos que Martin Heidegger, o que já apontava para seu interesse por questões fundamentais do ser e da técnica no mundo moderno.
Hoje, atuando como professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Artes de Berlim, Han se dedicou a escrever uma série de ensaios afiados que dissecam as patologias de nossa era. Seus livros são uma crítica incisiva à sociedade do trabalho hiperativo, à tirania da positividade e ao impacto da tecnologia nas nossas vidas psíquicas e sociais.
Em resumo, Byung-Chul Han não é apenas um acadêmico; ele é um intelectual público que nos forneceu as ferramentas conceituais para entender por que, em um mundo de abundância e conexão, nos sentimos tão profundamente cansados, sós e esgotados. Conhecê-lo é o primeiro passo para questionar as correntes invisíveis que nos mantêm presos nesse ciclo.
Curiosidade: Ele quase se tornou metalúrgico. Antes de se refugiar na filosofia na Alemanha, Byung-Chul Han iniciou seus estudos em metalurgia na Coreia do Sul, trajetória que talvez explique sua precisão em forjar conceitos como "sociedade do cansaço".




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